A audição é o elemento fundamental da comunicação humana. A surdez, definida como a perda ou diminuição considerável do sentido da audição, representa o principal distúrbio da comunicação.
A audição é tão importante para a educação normal e o desenvolvimento global da criança, que sua falta pode ser devastadora. É necessária para a aquisição da fala, para o reconhecimento dos sons, identificação dos objetos e eventos e a interiorização de conceitos.
A comunicação oral distingue o homem dos outros seres viventes e é obtida por meio de uma corrente de aquisições, cujo elo mais importante é a audição. É através do sentido da audição que o ser humano adquire linguagem e se comunica com seus semelhantes.
Quando à noite deitamos nossa cabeça no travesseiro e ficamos recordando fatos de nosso cotidiano, a maioria destes pensamentos são frutos de experiências auditivas. A Audição possibilita ao homem abstrair-se -- viajar no pensamento!
Dentre todos os distúrbios da comunicação, a surdez é o que apresenta a maior prevalência, uma vez que sessenta por cento destes distúrbios (sejam eles maiores ou menores) relacionam-se direta ou indiretamente com problemas auditivos. Sem a audição o homem se vê privado de perceber os sons da vida, adquirir espontaneamente a linguagem e desenvolver o pensamento abstrato. Vê-se, também, limitado na recepção e transmissão de conhecimentos.
“Os problemas da surdez são mais profundos e complexos, mais importantes talvez, dos que os da cegueira. A surdez é um infortúnio muito maior. Representa a perda do estímulo mais vital - o som da voz - que veicula a linguagem, agita os pensamentos e nos mantém na companhia intelectual do homem”. Essas são as palavras de Hellen Keller, uma americana nascida em 1880 que, aos 19 meses, ficou privada da visão e audição. Apesar destas deficiências desenvolveu-se intelectualmente até o ponto de notabilizar-se literariamente concentrando seus trabalhos nos problemas enfrentados pelos deficientes.
A deficiência auditiva durante a infância sempre resulta em déficits na recepção e expressão da linguagem, que se torna comprometedora no desempenho das funções cognitivas, emocionais, sociais e comunicativas da criança. Uma criança que não tem a sua deficiência diagnosticada precocemente, perde a inadiável oportunidade de ser inserida em um programa médico-educacional de habilitação que lhe proporcionara desenvolver-se e exercer plenamente sua cidadania.
Os efeitos deletérios da deficiência auditiva na criança são pouco reconhecidos, pois a perda auditiva se comporta como uma deficiência invisível. Um bebê com deficiência auditiva normalmente demonstra uma aparência sadia e tem um desenvolvimento praticamente normal durante o primeiro ano de vida. Mas quando esta deficiência não é detectada durante esse primeiro ano, irá interferir de modo trágico na habilidade da criança em aprender a falar, no seu desempenho escolar e na sua capacidade de contribuir produtivamente para a sociedade. Além do mais, habilidade reduzida para ouvir na juventude compromete adversamente o potencial vocacional e econômico do indivíduo. A somatória desses problemas conduz a uma atitude bilateral de segregação, pela qual o deficiente auditivo rejeita a sociedade e esta, por sua vez, rejeita o deficiente auditivo.
Apesar destas graves consequências a média de idade de identificação das deficiências auditivas está em torno dos 2,5 anos nos Estados Unidos da América do Norte (EUA), longe do período crítico para o desenvolvimento da fala e linguagem. Na nossa experiência (casuística de 2014 crianças que foram submetidas ao teste objetivo da audição através do BERA) este valor é de 3,6 anos. Esperamos que, em um futuro breve, possamos melhorar o baixo índice de detecção do deficiente auditivo no primeiro ano de vida, o que seria próximo do ideal. Lamentavelmente em nossa casuística apenas 7% daquelas 2014 crianças que chegaram ao nosso consultório com suspeita de surdez foram diagnosticadas dentro do primeiro ano de vida (Artigo: A Importância do Diagnóstico Precoce da Surdez Infantil na Habilitação do Deficiente Auditivo; Sousa, LCA et al, Acta Awho17(3):120-128, 1998)
O ideal seria o diagnóstico das deficiências auditivas no berçário ou no mais tardar aos 6 meses de idade, quando após o irrestrito consentimento dos pais seria deflagrado um serviço de intervenção precoce, que nos EUA é regulamentado por lei pública (P.L. 99-457 - EUA). Este serviço consiste na formação de um grupo de apoio aos familiares, avaliação da criança por equipe multidisciplinar (otologistas, neuropediatras, fonoaudiólogos, psicólogos, foniatras), adaptação de aparelhos de amplificação sonora, monitorização do status audiológico e o desenvolvimento das habilidades auditivas da criança.
Problemas gerados pela surdez infantil:
• Linguagem verbal / Fala• Aprendizado• Desempenho social• Emocional / Afetivo• Cognitivo• Potencial vocacional e econômico• Segregação familiar e social
Dados estatísticos relevantes:
• Estima-se que no Brasil 3 a 5 crianças em 1000 nascem surdas.• Quando o recém-nascido apresenta complicações neonatais e precisa de internação em UTI 2 a 4 em 100 crianças apresentam algum déficit auditivo.• 2% das crianças em idade escolar são portadoras de deficiência auditiva que exigiriam o uso de aparelhos de amplificação sonora.• 10 a 15% das crianças em idade escolar são portadoras de deficiência auditiva leve e flutuante.• 7 a 12 % de todos recém-nascidos têm pelo menos 1 fator de risco para deficiência auditiva.• 2,5 a 5% dos recém-nascidos do grupo de risco são portadores de deficiência auditiva, moderada ou severa.• 50 a 75% das deficiências auditivas são passíveis de serem diagnosticadas no berçário através da triagem auditiva (Otoemissões acústicas, também conhecida com teste da orelhinha).
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