Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, 10% da população mundial tem algum déficit auditivo. Já a chamada "surdez severa" incide em uma em cada mil pessoas nos países desenvolvidos e em quatro em cada mil nos países subdesenvolvidos. No Brasil, calcula-se que 15 milhões de homens e mulheres tenham algum tipo de perda auditiva e que 350 mil nada ouçam.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (2001) e Mathers, Smith, e Concha (2000) 250 milhões de pessoas em todo o mundo são portadores de perdas auditivas incapacitantes, representando 4.2% da população global. Deste contingente 66%, em torno de 166 milhões, nos países em desenvolvimento. Estudos epidemiológicos sobre a surdez não são comuns no Brasil. Um dos raros levantamentos de prevalência da surdez em nosso país, realizado em conjunto por Christoffel Blindenmission, the World Health Organization (Prevention of Blindness and Deafness – PBD) e a universidade Luterana do Brasil (ULBRA) de Porto Alegre revela:
26,1 % das pessoas das várias faixas etárias mostraram algum grau de perda auditiva em seu melhor ouvido.
6.8% apresentaram perdas auditivas classificadas como incapacitantes.
Homens são mais acometidos
Indivíduos acima de 60 anos são mais acometidos
Indivíduos de baixa escolaridade e poder aquisitivo são mais comprometidos
O IBGE (2001) revelou que na última década o brasileiro aumentou sua expectativa de vida em 2 anos: o número de idosos cresceu de modo significativo. Há meio século a expectativa de vida do brasileiro era de 43 anos hoje é de 69 anos. Estima-se em 14,5 milhões de idosos (9,1% da população). Segundo a ONU, o idoso é aquele que tem 65 anos ou mais.
Trabalhos recentes demonstram que a deficiência auditiva acomete de alguma forma em torno de 70 % dos idosos (pelo menos 10 milhões de pessoas em nosso país), tratando-se de questão de saúde pública com necessidades específicas quanto à promoção de saúde e à reabilitação auditiva. A perda de audição é a segunda mais comum inabilidade física nos EUA, logo atrás da dor lombar. Aproximadamente 10% da população dos EUA tem algum grau de perda de audição, incluindo um terço dos americanos acima de 65 anos de idade.
O envelhecimento populacional é um dos maiores desafios da saúde pública contemporânea. Este fenômeno ocorreu inicialmente em países desenvolvidos, mas, mais recentemente é nos países em desenvolvimento que o envelhecimento da população tem ocorrido de forma mais acentuada.
A surdez no idoso constitui-se em um dos mais importantes fatores de desagregação social. De todas as privações sensoriais, a perda auditiva é a que produz efeito mais devastador no processo de comunicação do idoso, sem contar que muitas vezes a deficiência auditiva pode ser acompanhada de um zumbido que compromete ainda mais o bem estar daquele indivíduo.
Com o avançar da idade a pessoa começa a apresentar um processo natural de envelhecimento de seus órgãos incluindo o ouvido o nervo auditivo e as vias auditivas no sistema nervoso central. A deficiência auditiva começa, via de regra, a ficar comprometedora após os 65 anos de idade. A perda auditiva decorrente deste quadro é conhecida com Presbiacusia. Em alguns indivíduos agentes agravantes como a exposição a ruídos, diabetes, uso de medicação tóxica para os ouvidos e a herança genética, a diminuição da acuidade auditiva na terceira idade torna-se extremamente comprometedora no que se refere a sua qualidade de vida.
A presbiacusia é, portanto o envelhecimento natural do ouvido humano simplesmente como somatório de alterações degenerativas de todo o aparelho auditivo. A presbiacusia compromete predominantemente as frequências altas (os sons agudos), o que afeta, de modo significativo a compreensão da fala.
A surdez pode se tornar extremamente incapacitante, muitas vezes como causa de doenças otorrinolaringológicas específicas evoluindo para graus mais avançados, ajudando a isolar do ambiente o doente que já possuidor de várias outras limitações físicas.
Assim como há o envelhecimento da visão e a pessoa passa a ver menos com a idade ela também passa a ouvir menos com a idade. E como é natural usarmos óculos para poder amplificar as imagens, também deveríamos usar os aparelhos de amplificação sonora (AAS), também chamados de próteses auditivas, ou equipamentos auxiliares para a audição sem nenhum preconceito, como forma de se minimizar os efeitos negativos da deficiência auditiva que tanto aflige as pessoas.
Na prática não é bem assim. Há um preconceito muito grande em relação ao uso dos aparelhos de audição e falta de informação sobre os avanços tecnológicos da área. As pessoas têm que estar conscientes do fato de que o uso do aparelho não diminui ninguém. A audição é muito importante nas nossas relações não só familiares, mas sociais e até laborativas. A perda da audição muda o perfil psicológico do indivíduo. Ele vai se tornando uma pessoa mais introvertida, mais desconfiada, vai se interiorizando no seu mundo próprio. Para se ter uma ideia, Bill Clinton, ex-presidente dos EUA, usa um aparelho de audição sem preconceito nenhum, e que foi de extrema importância na sua vida de homem público.
A deficiência auditiva é uma das principais causas do envelhecimento social do indivíduo, que se caracteriza pela perda da interação com as outras pessoas e pelo desligamento do idoso da sociedade. A Organização Mundial de Saúde, em 1980, definiu duas consequências importantes da deficiência auditiva, sendo elas: a incapacidade auditiva (perda propriamente dita) e o handicap (desvantagem).
A incapacidade auditiva refere-se à qualquer restrição ou falta de habilidade para desempenhar uma atividade dentro de uma faixa considerada normal para o ser humano, principalmente relacionada aos problemas auditivos experimentados pelo indivíduo com referência à percepção de fala em ambientes ruidosos, televisão, rádio, cinema, teatro, igrejas, sinais sonoros de alerta, música e sons ambientais. Já a desvantagem (handicap) relaciona-se aos aspectos não auditivos, resultantes da deficiência e da incapacidade auditivas, os quais limitam ou impedem o indivíduo de desempenhar adequadamente suas atividades de vida diária e comprometem suas relações na família, no trabalho e na sociedade. Esta desvantagem é em grande parte influenciada por idade, sexo e pelos fatores psicossociais, culturais e ambientais. O idoso mesmo portando perdas auditivas leves pode apresentar um handicap auditivo bem acentuado em função da degeneração das vias auditivas centrais (distúrbio do processamento auditivo), o que afeta adversamente a inteligibilidade da fala, que está ligada a compreensão do teor da conversação.
A deficiência auditiva gera no idoso um dos mais incapacitantes distúrbios de comunicação, impedindo-o de desempenhar plenamente o seu papel na sociedade. É comum observarmos o declínio da audição acompanhado de uma diminuição frustrante na compreensão da fala no idoso, comprometendo sua comunicação com os familiares, amigos, enfim, todas as pessoas que o cercam. Idosos portadores de presbiacusia experimentam uma diminuição da sensibilidade auditiva e uma redução na inteligibilidade da fala, o que vem a comprometer seriamente o seu processo de comunicação verbal. A perda auditiva em altas frequências (agudos) torna a percepção das consoantes muito difícil, especialmente quando a comunicação ocorre em ambientes ruidosos. Freqüentemente, respostas inadequadas de indivíduos idosos presbiacúsicos geram uma imagem de senilidade, a qual, pode não condizer com a realidade. A queixa típica destes indivíduos é a de ouvirem, mas não entenderem o que lhes é dito. A audição é imprescindível como mecanismo de alerta e defesa contra o perigo, permitindo localizarmos fontes sonoras à distância, dando-nos segurança e participação vital.
É muito frequente os familiares descreverem o idoso portador de deficiência auditiva como confuso, desorientado, distraído, não comunicativo, não colaborador, zangado, velho e, injustamente, senil. O aumento da pressão auto imposta para ser bem sucedido na compreensão da mensagem gera ansiedade e aumenta a probabilidade de falhar nesta tarefa. A ansiedade leva à frustração e a frustração leva à falha; a falha, por sua vez leva à raiva e, finalmente, a raiva leva ao afastamento da situação de comunicação. O resultado é o isolamento e a segregação.
Podemos resumir as implicações da deficiência auditiva no idoso, destacando:
Redução na percepção da fala em várias situações e ambientes acústicos. Piora em ambientes ruidosos. Muitas vezes está associado um zumbido o que piora o problema.
O idoso muitas vezes ouve o que a pessoa está falando, mas não entende.
Alterações psicológicas: depressão, embaraço, frustração, raiva e medo, causados por incapacidade pessoal de comunicar-se com os outros.
Isolamento social: A interação com família, amigos e comunidade fica seriamente afetada.
Incapacidade auditiva: igrejas, teatro, cinema, rádio e TV.
Intolerância (irritação) a sons de moderada à alta intensidade (principalmente os agudos). Se a pessoa fala baixo o idoso não ouve se ela grita o incomoda.
Problemas de alerta e defesa: incapacidade para ouvir pessoas e veículos aproximando-se, panelas fervendo, alarmes, telefone, campainha da porta, anúncios de emergências em rádio e TV
Ser um idoso portador de deficiência auditiva adquirida é algo que vai além do fato do indivíduo não ouvir bem, levando a implicações psicossociais sérias para a vida deste indivíduo e para os que convivem com ele diariamente. As frustrações que ele vivencia, pela inabilidade de compreender o que os familiares e amigos estão falando, representam um desafio. É, portanto, mais cômodo afastar-se das situações nas quais ocorra a comunicação ao invés de enfrentar embaraços decorrentes da falta de compreensão ou respostas inapropriadas dadas às questões não entendidas corretamente. De todas as privações sensoriais que afetam o idoso, a incapacidade de comunicar-se com os outros devido à perda auditiva pode ser uma das consequências mais frustrantes, produzindo um impacto profundo e devastador em sua qualidade de vida. Comunicar é partilhar com alguém um conteúdo de informações, pensamentos, ideias, desejos e aspirações, com quem passamos a ter algo em comum. A comunicação feita por meio da linguagem falada responde à necessidade vital do homem na busca de novas experiências e conhecimentos, sendo um ato social fundamental em nossas vidas. A audição normal mantém o idoso na companhia intelectual de seus entes queridos. Ouvir bem significa adicionar qualidade de vida à terceira idade. Não é importante somente adicionar anos à vida. Mas vida aos anos conquistados.
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